Da Folha de Palotina
O impacto da atividade humana sobre os ecossistemas pode ser
analisado através da identificação dos organismos que os habitam. Nesse
sentido, um estudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) reportou, pela
primeira vez, a diversidade de formigas no Parque Estadual São Camilo,
localizado em Palotina.
Os resultados foram publicados recentemente no artigo Ants
(Hymenoptera: Formicidae) of the Parque Estadual São Camilo, an isolated
Atlantic Forest remnant in western Paraná, Brazil, da doutoranda em Entomologia
da UFPR Natália Ladino e do professor Rodrigo Machado dos Santos Feitosa, do
Departamento de Zoologia.
As coletas utilizaram técnicas, como armadilhas de queda e
de interceptação de voo, extratores de serapilheira, capturas manuais em
vegetação e em solo. O processamento das amostras ocorreu no próprio parque e
no Laboratório de Sistemática e Biologia de Formigas da UFPR.
Após a identificação, Ladino e Feitosa depositaram os
exemplares na coleção entomológica Padre Jesus Santiago Moure.
No total, foram identificadas 108 espécies de formigas,
ampliando a diversidade conhecida para o Paraná e para toda a Região Sul do
Brasil.
Entre os novos registros, dez espécies foram identificadas
pela primeira vez no Paraná. Três delas (Carebara brevipilosa, Rasopone
ferruginea e Thaumatomyrmex mutilatus) já haviam aparecido no Rio Grande do Sul
e em Santa Catarina, preenchendo assim a lacuna de ocorrência delas no Sul do
Brasil. Já a espécie Pheidole lucrettii era conhecida apenas do estado de Santa
Catarina até este trabalho, o que expande sua distribuição para o norte.
Outras cinco espécies (Anochetus bispinosus, Strumigenys
hyphata, Wasmannia iheringi, Solenopsis iheringi e Rogeria scobinata) eram
conhecidas apenas em estados e países mais ao norte do Paraná. Assim os achados
no Parque São Camilo são o registro mais meridional da distribuição delas na
América do Sul.
Por fim, a espécie Brachymyrmex satchii apareceu pela
primeira vez no Paraná, uma vez que já havia registros no Panamá, Costa Rica e
em Santa Catarina.
Biodiversidade - O Parque Estadual São Camilo é um fragmento
de Mata Atlântica preservado, que constitui um ponto estratégico de ligação com
outras áreas de menor extensão no estado. Contudo, sua biodiversidade enfrenta
ameaças importantes, associadas ao avanço da fronteira agrícola e de atividades
humanas dentro e fora do parque.
Os pesquisadores explicam que até recentemente, os esforços
em reportar a diversidade biológica no parque se concentraram em outros grupos,
tais como fungos, plantas, morcegos, abelhas e vespas. Conforme Feitosa, “Os
resultados evidenciam a falta histórica de levantamentos de formigas no estado,
o que pode estar relacionado à baixa quantidade ou mesmo à ausência de
especialistas em formigas radicados em instituições paranaenses até o momento”.
As formigas são agentes essenciais em processos ecológicos,
abundantes em biomassa, facilmente coletadas, altamente sensíveis a mudanças
ambientais e com uma boa resolução taxonômica. Estas características as tornam
modelos biológicos relevantes na avaliação do estado de conservação de
ecossistemas terrestres.
Por isso, os cientistas chamam a atenção para o número de
espécies encontradas no estudo, que reforça a resiliência desse fragmento:
“Consideramos este número superior a 100 espécies um relevante indicativo do
Parque Estadual São Camilo como refúgio da biodiversidade na fronteira oeste da
Mata Atlântica brasileira, e chamamos a atenção para a necessidade de sua
preservação”. (Fonte: UFPR)