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Marcelino Afonso Neis, primeiro prefeito eleito de
Palotina. Ele cultivava um grande amor ao município.
(Foto: Vanildo Cardoso) |
Faleceu na manhã deste sábado, aos 98 anos, o pioneiro e primeiro prefeito eleito de Palotina, Marcelino Afonso Neis. Ele administrou Palotina de 1961 a 1966. Seu corpo será velado na Capela Santa Rosa e o sepultamento ocorrerá no final da tarde. A Câmara de Vereadores fará homenagem às 17h.
Tive a honra de produzir uma reportagem com ele para a Folha de Palotina. Recorri ao arquivo para trazer sua história:
Marcelino Afonso Neis chegou em Palotina no dia 6 de maio de
1954, vindo de Erechim-RS. Ao pisar no território onde mais tarde surgiria o
município, o pioneiro se deparou com o grande desafio. “Não é fácil imaginar
como era Palotina. É muito difícil comparar aquilo que tinha naquela época com
o que temos hoje. Eu não estive entre aqueles que foram os primeiros a chegar
aqui e que formaram o acampamento denominado República. Eu vim um pouco mais
tarde. A República era o ponto de referência. Todos que vinham de fora tinham que
passar por ali”, relata. Marcelino disse que a primeira pessoa que teve contato
ao chegar em Palotina foi Waldemar Gregório Empinotti, para perguntar como
chegava na parte de cima do território. “Quando o Waldemar viu o carro parar,
veio até a mim e me cumprimentou”.
Antes mesmo de desembarcar em Palotina, Marcelino já havia
providenciado a construção de sua casa. “Na verdade eu comprei terra aqui
através de mapa e até então não tinha vindo a Palotina. Vim num táxi de Toledo
que encalhou num atoleiro. Foi preciso dar uns empurrões para tirar o carro do
lugar. No lugar onde foi construída nossa casa não tinha nada, apenas a
clareira do mato queimado. A mata foi derrubada em duas ou três etapas. A
primeira derrubada iniciava na região onde hoje é o Posto do Locatelli até o
Hospital Menino Deus. Depois seguia até a Rony Pneus sendo concluída até o
Hospital Santa Cruz”, relembra.
Marcelino conta que quando acordou no outro dia ficou um
pouco assustado porque viera de uma cidade média, com muita gente no comércio e
na missa. “O ânimo e a coragem me convenceram de que iria progredir aqui”,
disse ao relatar que seu objetivo quando escolheu Palotina foi a instalação de
uma indústria de macarrão, bolacha e biscoito. “De fato colocamos em funcionamento
esta indústria mas a companhia que tinha se responsabilizado pela energia
elétrica acabou não dotado a cidade deste tipo de benefício. No início a
energia elétrica era gerada por um motor de um barco trazido de Foz do Iguaçu
que funcionava cerca de três horas por noite. Outro motor era movido a carvão,
mas como se tratava de um equipamento importado da Alemanha, na região não
tinha peças e quando quebrava tínhamos que ir a Curitiba buscar. Isso
dificultou para a nossa indústria, principalmente porque precisávamos produzir
muito, pois vendíamos os produtos em dezenas de cidades da região. Como não
tínhamos energia elétrica suficiente, decidimos desativar a indústria”.
O pioneiro revelou que sempre gostou da agricultura e
gostava de ver o mato, rios e na cidade de origem não dava para apreciar estas
coisas. “Foi por isso que resolvi vim para esta região. Confesso que não me
arrependi. Depois que parei com a indústria de massas, passei a atuar num
escritório de contabilidade em sociedade com meu cunhado e também fui vendedor.
Isso se deu até fins da década de 50”.
Política
Em 1957 Palotina foi elevada à categoria de Distrito
Judiciário de Guaíra. Marcelino lembra que foi a partir daí que Palotina
começou a se movimentar no sentido de buscar a emancipação. “Nós tínhamos uma
liderança muito boa e graças à influência de muitas pessoas com o governo do
Estado, foi criado o município em 25 de julho de 1960”. Em agosto daquele ano
foi nomeado interventor do município o senhor Waldemar Gregório Empinotti e em
3 de outubro de 1961 foi realizada a primeira eleição para prefeito quando
Marcelino disputou com Domingos Francisco Zardo que era diretor da Companhia
Pinho & Terras. “Acabei vencendo a eleição com diferença de apenas 37
votos. Foi uma eleição muito bonita e disputada. Para se ter uma idéia nos
chegamos a empatar a votação em quatro urnas. Assumi o município no dia 3 de
dezembro de 1961 com o desafio de estruturar a prefeitura para fazer os
atendimentos. Não tinha nada e precisávamos dar início a esta estruturação.
Tivemos que administrar a aquisição de todos os bens necessários ao
funcionamento da prefeitura. Foi um desafio grande, mas valeu a pena”.
O início
Quando assumiu a prefeitura, Marcelino se deparou com a
falta de equipamentos. Segundo ele a prefeitura de Guaíra não colocou máquinas
à disposição de Palotina. “À época que pertencemos a Guaíra uma patrola veio
para a nossa região uma ou duas vezes para cuidar das estradas. No meu projeto
de campanha tinha tudo que deveríamos fazer e passamos a trabalhar para
realizar”. Segundo o pioneiro entre as principais metas estava a legalização
das terras e a aquisição de uma patrola. “Um ano depois que estava na
prefeitura nós compramos uma patrola nova. Depois adquirimos outros veículos e
equipamentos para o município”.
Marcelino conta que no início as estradas eram abertas e não
havia manutenção. Conservar e abrir novas estradas foi um trabalho intenso
realizado pela prefeitura, inclusive a ligação entre Palotina e Assis
Chateaubriand foi viabilizada naquela época.
Em 2005 Marcelino foi homenageado com o título de Cidadão Honorário de Palotina por indicação dos vereadores Antoninho Luiz Cecchi, Ênio Moesch, Eurico Fernandes Barbosa, Jonas Mário Vendrúscolo, José Pedro Bento Filho, Lourival Gabriel, Osvaldo Paulino de Freitas e Valtecir César Manfrói.
Em 1963 o pioneiro também ajudou a fundar a C.Vale, na época denominada Campal.